ATA DA DÉCIMA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 23.04.1991.

 


Aos vinte e três dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a homenagear a independência do Estado de Israel, a Requerimento de nº 383/90 (Processo nº 2625/90), aprovado, do Vereador Isaac Ainhorn. Às dezessete horas e dezesseis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancadas a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Vereador Giovani Gregol, Representante do Senhor Prefeito Municipal; Deputado Estadual Flávio Koutzii, Representante do Senhor Presidente da Assembléia Legislativa do Estado; Doutor Samuel Burd, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul; Doutor Israel Lapchik, Presidente do Conselho das Entidades Judaicas do Rio Grande do Sul; Senhor José Conrado de Souza, Presidente da Associação dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira de Porto Alegre; Senhor Guedali Saitovich, Presidente da Organização Sionista do Rio Grande do Sul; Senhora Liana Seifer, Representante do Senhor Secretário de Estado de Recursos Humanos e Modernização, e, ainda, o Vereador Isaac Ainhorn, proponente da Sessão, e, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes a, de pé, ouvirem os Hinos do Brasil e de Israel. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador João Dib, em nome das Bancadas do PDS e do PFL, declarou ser descendente de libaneses, discorrendo sobre a Guerra do Golfo Pérsico e ressaltando que o mais importante para a humanidade é a paz. Leu trecho de discurso feito pela Senhora Golda Meier, em mil novecentos e quarenta e seis. O Vereador Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PCB e PT, discorreu sobre a história da independência da Israel, comentando os bons serviços prestados pela colônia judaica em Porto Alegre. Analisou, ainda, as perspectivas do Estado de Israel, após a Guerra do Golfo Pérsico. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT e PSB, destacou já ser tradição da Casa homenagear Israel pela passagem da data de sua independência. Comentou a história de Israel, referindo-se à Guerra do Golfo Pérsico e à busca constante do povo israelita pela paz. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Samuel Burd, que agradeceu a homenagem prestado pela Casa, discorrendo sobre a história de Israel e atentando, em especial, para a atuação do Estado de Israel durante a Guerra do Golfo Pérsico. Após, o Senhor Presidente pronunciou-se acerca da solenidade, homenageando, em especial, os funcionários deste Legislativo que possuem raízes judaico-árabes. Em prosseguimento, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, às dezoito horas e seis minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Antonio Hohlfeldt e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc” determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene.

A oportunidade desta Sessão evidentemente é tão maior quanto o fato de que, neste momento, ultrapassado o auge da chamada crise do Golfo Pésico, nós voltamos a discutir, e é o tema permanente das manchetes internacionais, a existência, o futuro, o presente do Estado de Israel. Portanto, nesse sentido, um excelente momento para que, nesta Casa, reflitamos a respeito deste assunto.

Passaremos a ouvir os Hinos do Brasil e de Israel, convidando os presentes a ouvirem de pé.

 

(São executados os Hinos do Brasil e de Israel.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. João Dib, que falará pelas Bancadas do PDS e PTB.

 

O SR. JOÃO DIB: Exmo Sr. Presidente, Ver. Antonio Hohlfeldt, meu caro José Conrado de Souza, Presidente da Associação dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira de Porto Alegre; meu querido amigo, de longa data, Guedali Saitovich, Presidente da Organização Sionista do RS; meu caro Ver. Giovani Gregol, representando neste ato o Sr. Prefeito Municipal, Olívio Dutra, Srs. Vereadores, meus senhores e minhas senhoras. Falo também por autorização do Ver. Aranha Filho, em nome da Bancada do PFL.

São estranhos os caminhos e descaminhos da vida. Ontem, nesta tribuna, eu dizia basta de discursos, chega de comemorar datas, porque no momento em que nós fazemos discursos, comemoramos datas, parece que esgotamos os nossos esforços no sentido de resolvermos os problemas. Mas são estranhos os caminhos e descaminhos desta vida. Sou árabe, filho de libaneses, tenho orgulho dos meus ancestrais. Estou nesta tribuna, mais uma vez, ainda que tenha um compromisso urgente e inadiável para homenagear o Estado de Israel, para homenagear a coletividade judaica, porque na minha alma não há lugar para discriminação social, racial, ideológica, política, não há lugar para discriminação. Sou pai de três filhos homens de uma mãe judia e tenho profundo orgulho deles na minha alma. E tenho dito reiteradas vezes que sou um homem de 1.80m de alma. E como é ruim ter alma e como se sofre por ter alma, como nós sofremos com os nossos semelhantes, quando vemos um mundo conturbado, onde gastam milhões de dólares por dia em balas de fuzis, em balas de metralhadora, em combustíveis para mísseis, para aviões e outras coisas mais, que, se empregados na saúde, na educação e na habitação, nós teríamos um mundo perfeito sem ódio, sem ressentimento, sem mágoa. Mas todos vivendo muito bem. Mas nós preferimos ser egoístas, despreocupados com os nossos semelhantes e continuar fazendo discursos, enquanto alguns fazem com que algumas coletividades sofram e sofram enormemente, porque não há solidariedade humana, porque é mais fácil fazer a guerra e tirar dela alguns frutos para algumas pessoas. O próprio Iraque, agora, é exemplo de tudo isto. Fez uma guerra e agora, como não conseguiu nada nesta guerra, está massacrando os seus próprios cidadãos. Nós temos lugar no mundo para todos. Eu gostaria que nós só pudéssemos falar de paz, que nós pudéssemos antever um futuro seguro para todos nós, que as palavras de Golda Meir, que depois de amanhã faz 45 anos que ela pronunciou em discurso à Comissão de Inquérito Anglo-americano, onde ela diz:           

“Nós só queremos aquilo que é dado naturalmente a todos os povos do mundo: ser donos do nosso próprio destino, não do dos outros, mas em cooperação e amizade com os outros”.

Eu gostaria que esta cooperação, que esta amizade, que este respeito mútuo houvesse entre todos e nós teríamos um mundo maravilhoso. E temos todas as condições de termos um mundo maravilhoso.

E é com aquele metro e oitenta de alma que disse que tinha, e acreditem os senhores que eu tenho esse metro e oitenta de alma, que eu encerro gritando quase: paz, paz e paz. Muito Obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Lauro Hagemann pelas Bancadas do PCB e do PT.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente da Casa, Ver. Antonio Hohlfeldt, Senhores Vereadores, senhores convidados, senhores e senhoras.

Mais uma vez a comunidade porto-alegrense se reúne aqui nesta Casa do Povo para assinalar a independência do Estado de Israel. Uma festa comum do mundo judaico, cuja colônia em Porto Alegre tantos serviços tem prestado a nossa coletividade nesta Cidade e neste Estado. E é uma razão para nós fazermos este ato e homenagearmos a colônia judaica de Porto Alegre por esta efeméride. Não será necessário recorrermos à História para dizer da saga do povo judeu, das suas tristes experiências de 2.000 anos de história, para chegarmos ao ponto em que chegamos de comemorar a independência do país judeu. No Brasil, especialmente, esse retrospecto histórico é desnecessário, por que aqui se confundem as nacionalidades, as etnias, as raças, as religiões. Para nós, por isso, é motivo de grande satisfação comemorarmos esta data, porque a comunidade judaica, em Porto Alegre, é parte da nossa existência; uma parte que vem se fazendo presente em todos os atos da vida da Cidade por longos e longos anos. E nós queremos preservar esta convivência. Queremos que os descendentes judeus em Porto Alegre se sintam como se estivessem na sua casa. E a Câmara Municipal, em todas as ocasiões em que é solicitada, como o foi agora, com o Requerimento do Ver. Isaac Ainhorn , se reúne para prestar esta homenagem e dizer, com toda a tranqüilidade, que o povo de Porto Alegre se associa a esta homenagem. Não precisamos recorrer a expedientes de discurso para fazermos estas referências. Hoje, como já foi citado pelo Ver. Dib, depois da crise do Golfo, abre-se uma nova perspectiva para a convivência mais pacífica entre povos de determinadas áreas do mundo. Numa área especialmente em que está o Estado de Israel, hoje muito conturbada, esta visão de uma convivência mais fraterna se apresenta como uma coisa mais concreta. E isto é uma imensa satisfação para todos aqueles países do mundo e, especialmente, o Brasil, que querem ver a convivência humana com mais fraternidade, com menos violência, com a ausência de guerra. E paz não é só a ausência de guerra; paz significa muito mais; é a paz que os povos almejam para fazerem, através da paz, a construção da sua sociedade num mundo sem medo, sem temores, sem angústias, um mundo em que a educação seja acessível a todos, em que a saúde seja um bem para todos os cidadãos, em que os alimentos, em que as distrações sejam acessíveis a todos. Esta é a paz que almejamos. Acredito que esta paz possa ser conquistada. Almejo sinceramente que também aqui, em Porto Alegre, os descendentes do povo judeu trabalhem em favor desta paz. Há concretas indicações de que isto é possível. E, se chegarmos a este fim tão desejado, poderemos, no ano que vem, quem sabe, tomara, comemorarmos mais uma data do aniversário do Estado de Israel, numa situação bem mais tranqüila, sorridente e feliz do que aquela que estamos comemorando. A todos os judeus de Porto Alegre, descendentes deste inexcedível povo que, através do tempo, marcou a sua passagem com uma dedicação e uma pertinácia incrível, que é um exemplo para a humanidade, nós todos desejamos um feliz aniversário pela criação do Estado de Israel. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar a presença, além dos Vereadores já mencionados, e que representam Bancadas nesta Sessão, Vereadores Nelson Castan, Aranha Filho, Cyro Martini, que participam neste Plenário. Concedemos a palavra ao vereador proponente, Isaac Ainhorn, que falará pelas Bancadas do PDT e PSB.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente da Câmara de Vereadores, Ver. Antonio Hohlfeldt; Ver. Giovani Gregol, nesta oportunidade representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; representantes de entidades comunitárias aqui presentes; representação da Wizo, representação das Naamat Pioneiras na pessoa da sua presidente que aqui se encontra conosco; representantes de entidades judaicas aqui presentes, associações culturais e recreativas, religiosas, que nos honram com a sua presença. Eu gostaria, inicialmente, de dizer que tem sido uma tradição da Câmara Municipal de Porto Alegre prestar uma homenagem por ocasião do aniversário da independência do Estado de Israel. Sessões solenes, como esta, muitas já se realizaram e têm sido, como disse, uma tradição nesta Casa de que da representação política de Porto Alegre orgulha-se em manter. Vários Vereadores que aqui estão presentes já foram autores de proposições iguais a esta minha, exemplo disso, o Ver. Aranha Filho, exemplo disso, Ver. Nelson Castan e outros Vereadores que já passaram por esta Casa e que foram proponentes de homenagem ao Estado de Israel. Digo aos Senhores nesta oportunidade em que aqui comparecem, que esta, para nós, é uma Sessão especialíssima. O povo judeu, através dos tempos, na sua história milenar, tem passado por situações as mais adversas. Na constituição do Estado de Israel, desde a sua independência há 43 anos, tem sido, uma história de lutas e de dificuldades e de busca incessante da paz. Este ano eu digo que foi um ano diferente para o Estado de Israel, para o povo judeu e para a humanidade em seu conjunto. Nós tivemos dois fatos importantes da maior relevância e cujas conseqüências não se encerram ainda. Passada a Guerra do Golfo Pérsico, este é um dos fatos de que ainda se fala numa saída. Curiosamente, comentaristas já referem, do fortalecimento lá naquela região, de ditadores como Sadan Hussein. Isso é uma preocupação para o povo judeu, para o Estado de Israel e também para todo o mundo, por ditadores, títeres desta natureza já colocaram um clima de angústia mundial e de perplexidade, cujas conseqüências, alguns meses atrás tínhamos dificuldades de avaliar. Naquele momento, o Estado de Israel passou por uma das situações mais delicadas da sua jovem história de 43 anos. As suas cidades foram atacadas por bombas criminosas que atacaram populações civis e, muitas vezes, se observou uma certa perplexidade e o mundo assistiu, até porque a sabedoria dos governantes do Estado Judeu soube dar a resposta que aquele momento exigia. A sua resposta foi agüentar sem revide aquela situação por que passava o povo judeu. Porque, pela primeira vez na sua história, as suas cidades Tel Aviv e Raifa eram atingidas e também as suas populações civis. Não eram os soldados de guerra, eras as suas populações civis que eram violentamente atingidas. Este é o fato marcante deste ano, deste período, destes últimos doze meses que vivemos. E um outro fato que, talvez só a perspectiva histórica dos anos vai nos permitir avaliar, é a vinda, o verdadeiro êxodo de judeus Soviéticos, de judeus Russos, de seu retorno para o Estado de Israel. Nós estamos vivendo, e eu digo as nossas gerações, desde aqueles que sobreviveram nos campos de concentração, e as gerações subseqüentes que têm vindo depois da 2ª Guerra Mundial, nós estamos assistindo na história do povo Judeu a um dos momentos maiores de toda a história dos seus 2.500 anos; do cativeiro do Egito, da Diáspora, da dispersão, do retorno. Fazendo uma reflexão sobre esses fatos, sobre o surgimento e o reerguimento do Estado de Israel, posso dizer que é um dos momentos marcantes na história mundial. Só a perspectiva histórica poderá nos dar a dimensão, a importância do momento que estamos vivendo. Inegavelmente, o retorno em massa de judeus russos para o Estado de Israel, com aviões chegando, diariamente, com judeus vindos da União Soviética, e mesmo naquele período em que os Scuds atacavam o Estado de Israel, mesmo naquele período, os judeus russos estavam chegando ao território judaico, é um fato histórico.

Feitas essas observações e considerações, desejo fazer uma rápida abordagem, que julgo importante para este momento, sobre determinadas coisas que, penso, devam ficar claras e que, talvez, o registro histórico seja importante. O Estado de Israel emanou de uma resolução supranacional da Assembléia Geral das Nações Unidas, no dia 29 de novembro de 1947, que preconizou o estabelecimento e o surgimento de dois Estados soberanos: um judaico e um árabe. As fronteiras dos dois Estados foram previamente marcadas e havia, por parte da ONU, naquela oportunidade, uma determinação de que, até lº de fevereiro, os ingleses evacuariam a parte costeira do território destinado aos judeus para organizar a vinda e a absorção dos imigrantes. Até essa data, a comunidade judaica e a comunidade árabe criariam os seus respectivos conselhos provisórios com o objetivo de constituir dois Estados soberanos e independentes: o Estado de Israel e o Estado Palestino. Em 14 de maio de 1948, quando os ingleses se retiravam e davam por extinto o seu mandato, David Bengurion, usando da palavra sobre forte emoção, proferiu as seguintes palavras: “Nós, membros do conselho do povo, representantes da comunidade judaica, da terra de Israel e do movimento sionista, estamos aqui reunidos, e, em virtude do nosso direito natural e histórico, e por força da Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas, declaramos o estabelecimento do Estado judeu em Israel, a ser conhecido como Estado de Israel”. Estes dados são fundamentais. No dia seguinte, neste ano de 1948, Israel começou a ser invadido por todas as suas fronteiras e por todos estes Estados árabes. Portanto, desde o seu surgimento, o Estado de Israel passou por inúmeras batalhas, inúmeras guerras e, até hoje, Israel, nos seus 43 anos, tem sobrevivido a inúmeras adversidades e guerras: a guerra de 1948, por mim referida, a guerra de 1956, a guerra de 1967, 1973, a Entifada e, nos dias mais recentes, estes ataques, os ataques dos Scuds. Mas não pensem os senhores que nestes períodos, nestes interregnos a que me referi: 1948, 1956, 1967, 1973, houve paz para o Estado de Israel. Não! durante todos estes momentos, sempre o clima foi de beligerância e de dificuldades em suas fronteiras. Depois de 1964, uma nova época começou a ser inaugurada, quando o mundo inteiro, sobretudo na década de 1970 em diante, os judeus do mundo inteiro eram vítimas de ataques terroristas em diversas partes do mundo.

Realmente, estes fatos todos e os recentes acontecimentos os levam a uma profunda reflexão: da importância histórica e do fato inconteste do Estado de Israel, Estado este que, para quem tem um contato e informações, sabe que é um Estado constituído dentro de um pluralismo dos mais democráticos do mundo, em que os próprios árabes têm presença no Parlamento israelense e o respeito do cidadão, os direitos inerentes ao cidadão e o respeito à condição de ser humano é um dos fatos mais característicos e marcantes da estrutura do Estado de Israel. É um curioso país Israel. É tão pequeno que nem sequer há lugar nos mapas, dependendo a sua dimensão para escrever o seu nome. Mas é um país de limites espiritualmente ilimitados e que tem recebido muitas vezes, além dos ataques de toda esta história de guerras e de dificuldades, golpes em nível diplomático, muitas vezes, duro. Um dos mais cruéis golpes que o Estado de Israel sofreu foi a triste e infeliz resolução da Organização das Nações Unidas, em 1975, pressionado, mais por interesses econômicos do que outras coisas quaisquer, que consideraram o sionismo como forma de racismo, quando as raízes históricas deste movimento revelam que o sionismo fundamentalmente foi e é o movimento de 1ibertação de um povo, um movimento de retorno as suas raízes e de encontro com o seu povo. Infelizmente, a realidade desta resolução ainda é um fato, que até hoje a ONU não revisou, de considerar o sionismo como uma forma de racismo. É um país menor que muitos Municípios do nosso Estado, é um país tão curioso, onde os pais aprendem dos filhos o idioma paterno, onde os generais e ministros são chamados pelo nome em forma de tu. É um país que, de tanto precisar a paz, precisa viver defendendo-a em estado constante de guerra. É o único País que precisa convencer os demais sobre o seu direito de viver. Por isso, a argamassa básica para a sobrevivência do Estado de Israel é a paz.

Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Oxalá, possamos no ano que vem comemorar esta data novamente! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do Ver. Leão de Medeiros.

Passamos a palavra ao Dr. Samuel Burd, que falará oficialmente em nome da imagem e da idéia de Israel, que homenageamos hoje.

 

O SR. SAMUEL BURD: Exmo Ver. Antonio Hohlfeldt, Presidente desta casa; Sr. Guedali Saitovich, Presidente da Organização Sionista do Rio Grande do Sul. (Lê.)

“Este ato do Legislativo de nossa Cidade, já uma tradição desta Casa, tem neste ano um significado muito especial. Esta homenagem ao 43º Aniversário da Independência do Estado de Israel é realizada após o período tão angustiante sofrido pela humanidade.

O mundo, há bem pouco, atravessou uma fase muito próxima do risco de uma guerra de gravíssimas conseqüências para todo o universo. O Estado de Israel teve uma participação muito positiva no sentido de que tal tragédia fosse evitada. Se o mundo enfrentou tão grave risco, Israel conheceu, por sua vez, uma situação ímpar em sua história e, talvez, na história de qualquer outra nação. Por sua peculiar condição política e extremamente vulnerável posição geográfica, foi necessária toda a prudência e lucidez de seus governantes e o sacrifício que, muitas vezes, chegou ao heroísmo, de todo o seu povo. O preço exigido foi muito elevado, com a perda, inclusive, de vidas que, independentemente de suas origens, são sempre preciosas.

Mas Israel saiu moralmente fortalecido e volta a dirigir os seus olhos para os caminhos da Paz, permanentemente desejada por todo seu povo. Esta homenagem, portanto, mais do que em qualquer outro momento, sensibiliza profundamente toda a comunidade judaica de Porto Alegre.

O Israel moderno, o jovem Estado contemporâneo, tem em sua história política um permanente elo afetivo com o Brasil e o Rio Grande do Sul. A presença de Oswaldo Aranha, o ilustre estadista brasileiro e gaúcho - como Presidente da ONU - definiu rumos. A maioria das nações, entre as quais as grandes potências, votaram na memorável Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas de 29 de novembro de 1947, a favor da resolução que abriria os caminhos para o estabelecimento do Estado de Israel, cujo 43º Aniversário de Independência estamos hoje comemorando. Esta é uma dívida de gratidão que o povo de Israel jamais esquecerá.

Finalizando, Senhor Presidente, Senhores Vereadores, desejo em nome da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, órgão representativo da comunidade judaica de nosso Estado, agradecer o nobre gesto dos senhores integrantes desta Casa que, acolhendo a proposição do ilustre Vereador Isaac Ainhorn, ensejaram a oportunidade desta homenagem que merece o maior apreço de toda a comunidade judaica.

Ao mesmo tempo, reafirmam-se as tradições desta Casa que, democraticamente, prestigia a todos os segmentos da sociedade brasileira, independentemente de suas origens. É com a união de todos, dando-nos as mãos, em uma convivência pacífica e fraterna, que poderemos trabalhar pelo bem comum de nossa Cidade, do Rio Grande e do Brasil. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Minhas senhoras, meus senhores, ao encerrarmos este ato, gostaria de fazer um breve registro, porque também nasci em 1948, sou um pouco mais moço que o Estado de Israel em alguns meses, e assisti, ao longo dos anos em que tenho estado nesta Casa, e participei de algumas das Sessões que marcaram o aniversário do Estado de Israel, na condições da Liderança do meu partido, o PT, e hoje, tenho, realmente, a alegria de presidir esta Sessão na condição de Presidente da Casa, que os companheiros me delegaram, e venho, inclusive, sob uma imagem muito forte do último domingo, quando no Museu de Arte de São Paulo, tive a oportunidade de visitar a exposição, e que, infelizmente, não virá a Porto Alegre, e digo isso para provocar o Dr. Samuel, porque, quem sabe lá, a nossa Associação Cultural Marc Chagall vai ficar mais forte, e poder trazer esse tipo de exposição a Porto Alegre, que é a exposição dos tesouros da Terra Santa, que fica até o próximo domingo, em São Paulo, e é uma exposição que fala por si mesma, sobre a tradição cultural, das raízes comuns do povo árabe e do povo judeu, dos territórios, e que tem a ver com todos nós. Assim como nenhum de nós pode se negar viver num universo cristão, nenhum de nós pode se negar viver na tradição árabe-judaica. Espero que a exposição Lazar Segal, programada para cá, nos deixe um pouco mais felizes, no sentido de acompanharmos uma outra exposição ligada a essas tradições dentro do Brasil. A Câmara Legislativa é a Casa do Povo de Porto Alegre, e todos os senhores formam e integram o povo de Porto Alegre, portanto, nesse sentido, esta é a Casa de todos os senhores.

Todos nós, literalmente, todos nós que aqui estamos, temos raízes fora daqui; as minhas, aparentemente, são da Alemanha, muitas vezes me pergunto se não serei um cristão novo, lá por alguns séculos antigos. De qualquer maneira acho que, ao longo desses anos, sempre participei dessas Sessões, pude trazer a palavra dos companheiros do nosso Partido que hoje substituo pela palavra da direção da Casa. Acho que a Câmara é um pouco uma terra prometida, a maioria de nós certamente chega aqui, como chegam muitos a Israel, imaginando salvar o mundo, viver num paraíso, mudar radicalmente tudo aquilo que já se viveu antes. Mas sobretudo o que se aprende nesta Casa com toda certeza como o que se aprende em Israel é de que esta terra prometida exige muito trabalho, exige muita dedicação

Era este o registro que queríamos fazer aqui homenageando, me permito isto, não apenas todos os presentes integrantes da Mesa, carinhosamente meu companheiro Flávio Koutzii, que hoje retorna à Casa na representação da Assembléia, mas, sobretudo, aqueles companheiros que vivem conosco nesta terra prometida da Câmara de Vereadores, do desafio do cotidiano, dos funcionários que nos rodeiam no dia-a-dia e que têm as raízes judaicas como o Isaac Zilberman que dirige aqui na Casa a assessoria técnica parlamentar, como o Eduardo Epsztein que integra o meu gabinete, como o Abraão Blumberg, que é o coordenador da Bancada do PT nesta Casa. Se alguém dúvida de qualquer preconceito acho que, evidentemente, tende a ultrapassá-los exatamente pela integração do trabalho que temos e não vou mencionar, evidentemente, todos os demais companheiros alemães, italianos, poloneses, talvez faltem japoneses aqui, mas em breve vamos suprir isso, integrando-os à comunidade desta Casa. Por tudo isso acho que esta tradição é muito importante, é um território geral, um território universal que esta Câmara é ao natural e é um território muito especial essas sessões periódicas que realizamos.

Eu quero agradecer a todos a oportunidade de vivenciar uma vez mais, nesta vez na condição da Presidência da Casa. Muito Obrigado.

Encerramos os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h06min.)

 

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